sexta-feira, 9 de abril de 2010

Flor na cicatriz do granito

Como se de um breve fogo se tratasse
Como se das chamas saísses tu ilesa
De amores falhados
Como se da chuva eu bebesse
E saciasse a sede de ti

Como se de uma rocha onde se gravou
A violência do mundo
Saltasse uma pedra como mensagem
Que se arremessa à cabeça de um gigante

Como se todo o tempo fosse essa ou outra tarde
Como se numa concha coubesse mesmo um mundo
Como se nos valessem os anos sofridos
em alfabetos de silêncio

Como se o caos se detesse por um momento
Para te ver a sair do fogo
Para te beber na chuva
E colher-te

A ti
Flor na cicatriz do granito

9 comentários:

Anônimo disse...

exercício

Foram anos, foram meses
de intensa prática
de vazio a cheio
de cheio a vazio
de alívio, de tremor
de plenitude a meio de ser alcançada
na metade nunca encontrada
da maçã cortada a meio.

Raros os dias
que esqueço falar-te
de encosto a uma parede
como todos os muros grossos e insonoros.

Raros os dias
que não grito o teu nome
como quem suplica ao mais íntimo
do seu templo interior

escuta

é o silêncio.
é a voz que escolhi,
a liberdade infinita
para te dizer tudo.

Shadow disse...

A magnifica pintura de um momento, atirada para a eternidade...
Palavras para respirar as poucas belezas que ainda conseguem ser roubadas do mundo para serem ancoradas na nossa alma.

jonathan disse...

como se a tudo fosse capaz de resistir,
como deitas a esperança nela,
a flor na cicatriz do granito.

Anônimo disse...

É um alívio poder ler-te numa noite em que o sono não chega.

Vou aguardar e só vou adormecer quando o canto dos pássaros anunciar a madrugada.

Anônimo disse...

adoro a tua poesia. revejo-me na melancolia das palavras... obrigado por partilhares.
Um abraço

jane doe disse...

Não há comentário possivel....é tudo demasiado real e intenso...obrigado por conseguires traduzir em palavras a brutalidade com que a relaidade nos atinge

Batata disse...

Embora talvez já esteja (ou estejas, não sei como o/te tratar)farto de ouvir sempre a mesma coisa, ou talvez não, na realidade só queria felicitá-lo por todo o seu trabalho até agora, tanto na música como na escrita. Tenho acompanhado o seu blog e posso dizer-lhe que adoro.Tiro-lhe o chapéu por tudo o que escreveu, e onde demonstra um grande talento!
Um abraço...

Christine disse...

Divina música da alma, mais uma vez ***

Daisy Libório disse...

Como o ópio, a flor queima...
enquanto a chuva compassada no teu rosto te faz viver, em palavras, coisas além de tuas próprias superfícies, além das cicatrizes frias deste granito negro...