sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Orfeu Rebelde





Como de poesia se trata, aqui vos deixo o convite para fazerem download gratuito e/ou comprar um exemplar do disco em exclusivo nas lojas FNAC.


É um trabalho de poesia e música, composto pelo Pedro Paixão (Moonspell) e interpretado pelo mesmo (instrumentos), e comigo e Rui Sidónio (Bizarra Locomotiva) nas vozes. O conceito foi idealizado por mim, a partir do livro de poemas de Miguel Torga: Orfeu Rebelde.

Alguns dos textos informativos e poéticos:

Este trabalho brota de diversas nascentes que, em boa hora, se reuniram dando origem a este turbilhão de palavra, voz e som que o colectivo O.R. vos apresenta. A primeira palavra vai para o poema de Miguel Torga que me fascina e provoca desde a tenra maturidade. Todo o poema é um desafio feito através da voz, do canto, do clamor, da angústia assumida. Para me ajudar a vocalizar esta revolta e conquista convidei o (Rui) Sidónio dos Bizarra Locomotiva que já me acompanhou noutros cantares de terror e beleza. As suas qualidades narrativas são preciosas, são poesia dita pelo músculo e muito lhe agradeço a honra de seu grito neste projecto.
Por fim, dirigi-me à pessoa, que na sombra ou fora dela, mais tem feito pela minha banda de sempre, pela minha única banda, os Moonspell, e que, mais uma vez, não renegou a prometaica tarefa de musicar, com classe e escuridão, as palavras do Torga, reunidas por mim e divididas por ele, entregues à nossa voz e às suas guitarras e ambientes. Profundo e eterno agradecimento.
Cada som como um grito é um trabalho diferente. Dizemos o Português gritando, o Português de Torga, duro mas belo, cerimonial mas envolvente.


I - LETREIRO

Porque não sei mentir,


Não vos engano:


Nasci subversivo.


A começar por mim - meu principal motivo


De insatifação -,


Diante de qualquer adoração,Ajuizo.


Não me sei conformar


E saio, antes de entrar,


De cada paraíso.



II - PRELUDIO
Reteso as cordas desta velha lira
Tonta viola que de mão em mão
Se afina e desafina.
E de onde ninguém tira
Senão acordes de inquietação
Chegou a minha vez e não hesito
Quero ao menos falhar em tom agudo
Cada som como um grito
Que no seu desespero diga tudo
E arrepelo a cítara divina
Agora ou nunca meu refrão antigo
O destino destina mas o resto é comigo



III - RELÂMPAGO
Rasguei-me como um raio rasga o céu
Iluminei-me todo de repente
Negrura permanente
De noite enfeitiçada
Queis ver-me com pupilas de vidente
E arrombei os portões à madrugada
Mas nada vi
Caverna de pavores
Só com tempo e vagar eu poderia encarar
Castigar e perdoar
Tanta abominação que em mim havia

IV - ORFEU REBELDE



Orfeu rebelde, canto como sou:


Canto como um possesso


Que na casca do tempo, a canivete,


Gravasse a fúria de cada momento;


Canto, a ver se o meu canto compromete


A eternidade no meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam rouxinóis...


Eu ergo a voz assim, num desafio:


Que o céu e a terra, pedras conjugadas


Do moinho cruel que me tritura,


Saibam que ha' gritos como há nortadas,


Violências famintas de ternura.



Canto como quem usa


Os versos em legitima defesa.


Canto, sem perguntar à Musa


Se o canto é de terror ou de beleza.

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download gratuito em:

http://www.optimusdiscos.com/discos/cada-som-como-um-grito

8 comentários:

Anônimo disse...

Como se a Saga continuasse ainda viva, e no grito a violência faminta de horror, beleza e ternura.
Satisfaz-me em pleno encontrá-los num só grito, na poesia de Torga, na expulsão cantada rebelde e emotiva, mas toda iluminada (de repente), como se um possesso da negrura permanente...

Somos assim.


O destino destina mas o resto é comigo,
Ana Ferreira (ar)

Anônimo disse...

"Sing as one who uses


The verses in self-defense.


Canto, without asking the Muse


If the corner is terror or beauty."


A bit of both, in equal measure.
but
Darkness, the stars aren't so bright when you're not here...

© Maria Manuel disse...

obrigada pelo convite (possibilidade) para download e por aqui deixares poemas de Miguel Torga. estou muito curiosa para ouvir, admiro essa tua vontade e disponibilidade para novos e diferentes projectos.
abraço.

Anônimo disse...

Gosto deste trabalho,a primeira vez que escutei foi na A3, penso que a música Orfeu R.
Parabéns,pois está um trabalho brutal. Força, viva à poesia em harmonia com a música. Gato profano.

A Lisboeta disse...

De facto, já tinha ouvido falar deste projecto. Achei muito interessante. Até porque tu sempre gostaste de literatura, não é? :)

Beijinhos

Chitraka disse...

Absolutamente magnífico este Projecto (mais um para juntar aos teus outros). Fiz mesmo questão em adquirir o registo físico na FNAC.
Muitos parabéns a ti, ao Paixão, ao Sidónio e ao resto do pessoal envolvido em tal maravilha :)
Agora bonito bonito, seria presenciar estes belos cânticos ao vivo :p

Quem sabe um dia...

Kiss kiss,
Cecilia

Raquel disse...

De Miguel Torga só conhecia a prosa. Depois disto fiquei com vontade de reler e descobrir a poesia. Incrível. Definitivamente o meu novo vício. É de esperar ter a oportunidade de ver ao vivo pelas bandas do norte?

Daniel Pestana disse...

Amei este trabalho. Conhecia muito pouco de Miguel Torga, porque desde sempre estive mais inclinado para Pessoa, mas fiquei com vontade de descobrir mais. Excelente.