sexta-feira, 16 de abril de 2010

Extinto (a um amigo influente)

Hálito de cobra
Dentro do vidro
A neve cai
E cobre o teu corpo
Afável gigante

Jóia de prata verde
Detrito
Casualidade partida
Na testa mutilada do mundo
À beira de um novo ataque

Para não incomodar a coreografia
A esta hora já regressam os corvos
Ao teu jardim
Sei que paraste de respirar nas folhas
De manusear as lamas
E que te deitaste ao lado
Da vida que corre no espelho do lago
Olhos fechados com a terra das margens

Vejo-te correr para bem longe daqui
Até ao mais denso do verde
Vejo-te ajoelhar silenciosamente
Para te observares
Ainda vivendo
Falando com os teus
E com os outros
Mostrando-lhes as tuas mãos vazias
Ensinando-lhes a tua vertigem cor de plantas
Sentido proibido, imagem
Parábola, carambola
Treze no buraco

Denunciado pelas paredes do vidro
Sais finalmente em liberdade
Diriges-te ao bosque
Para confrontares o teu corpo morto
Exigir explicações
Desafiá-lo para um duelo
Ao pôr-do-sol

Quando morreste
Mataste algo de mim
Coisa pouca que seja
Mas que faça de mim
Um homem melhor
Um sítio melhor
Para a tua memória viver


Descansa em paz Peter.

18 comentários:

Chitraka disse...

Apesar de nunca ter sido apreciadora dos Type O Negative, não consigo ficar indiferente a todas as homenagens que lhe têm sido feitas.
As tuas palavras descrevem bem a admiração, que eu sei que tinhas pelo Pete :)
Muito obrigado por partilha-las connosco.

Beijo grande :)

Chitraka disse...

Apesar de nunca ter sido apreciadora dos Type O Negative, não consigo ficar indiferente a todas as homenagens que lhe têm sido feitas.
As tuas palavras descrevem bem a admiração, que eu sei que tinhas pelo Pete :)
Muito obrigado por partilha-las connosco.

Beijo grande :)

jane doe disse...

o possivel descanso de quem dizem viver em constante tortura
RIP

Carolina Dávila disse...

Gosto-me muito!!!
Um abraço caro Fernando.

Shadow disse...

Triste esta hora...
Descanse em paz, sim, havemos de nos encontrar todos do outro lado para celebrar...

bluuuu disse...

é precioso Fernando,a melhor homenagem que pode ter Peter....já me encarreguei de traduzí-lo ao español. um beijo muito grande a todos os fãs de type O negative e moonspell

bluuuu disse...

é precioso Fernando,a melhor homenagem que pode ter Peter....já me encarreguei de traduzí-lo ao español. um beijo muito grande a todos os fãs de type O negative é moonspell

Lucie Inland disse...

You found the perfect words to express all that sadness, I'm nearly crying... He forever will be missed.

jonathan disse...

era um grande vocalista e grande pessoa.
influente, para ti certamente e visivelmente...

Guida disse...

Não conhecia este blog e cheguei cá através da Zuzu.
Fiquei encantada, tocada,como sempre, pela tua poesia.

Um beijo
Guida

Sophia Cinemuerte disse...

"Quando morreste
Mataste algo de mim
Coisa pouca que seja
Mas que faça de mim
Um homem melhor
Um sítio melhor
Para a tua memória viver"

:)

Anônimo disse...

a memória acende-nos algo ainda vivo... nunca a mesma vivacidade gravemente esmeralda...

*:-(

© Maria Manuel disse...

bela homenagem. um abraço, Fernando.

Christine disse...

Beautiful and profound dedication. Another loss that will be missed in the metal music scene. Will be kept alive in memory and in our audio sets...
R.I.P. Pete Steele

Jéssica A. disse...

Fernando, traduziu muito bem o que muitos sentiram com a ida dele em precisas e dolorosas palavras.
Tu retiras da tristeza o líquido mais bonito.

Peter deve ter se alegrado com isso.


"Thanks for the music Peter Steele"

A Lisboeta disse...

Olá, Fernando!

É um belo poema, este...

Olha, há uns tempos atrás, andava a ler um livro de contos góticos da Mary Shelley. E...saiu isto:

http://starfish-11.blogspot.com/2010/02/morte-imortal.html

Espero que gostes :)

Beijinhos

Anônimo disse...

Que nada neste mundo nos faça pensar
a pretença de um no outro.

Como a água
que escoa das montanhas
para o caudal dos rios
às ondas do mar,
que nada neste mundo vão
e incomensurável belo
nos faça apartar daquilo que somos.

Que a morte não seja o fim
mas o princípio
de algo que liberta
de algo que foi libertado
e que assim se reuna de vez
se antes não fora possível,
à imortalidade,
à condição
tangível ao comum mortal
porque as lágrimas que choramos
fazem brotar do chão infértil
plantas e bonitas flores.

Porque se algo de bom foi plantado no coração do homem
lá permanecerá para sempre.

O que não se extingue frutificará.

Klatuu o embuçado disse...

Este veio das entranhas...

Abraço!