quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Primeiras impressões


A primeira vez que apresentei um livro, em 2001, não sabia o que me esperava. Foi na Fnac do Chiado em 2001, estava lá, para meu feliz terror, muita, muita gente, cheguei atrasado, não conseguia estacionar o carro e passei por todas as peripécias possíveis. Em todo o caso não posso dizer que estava totalmente às escuras: se houve algo que intui nessa altura é que tal como quando se conhece uma pessoa, a primeira impressão é muito importante e há que saber rentabilizá-la com graça e espírito.


Na minha primeira apresentação usei, se a memória não me atraiçoa em demasia, usei Eugénio de Andrade para dizer que "toda a poesia é luminosa mesmo a mais obscura" e Eça, para justificar o meu livro e a sua partilha/publicação, com aquele ditame "galego" do homem que partilha o quarto e a sua história pessoal em Singularidades de uma rapariga loura (o novo filme de Manoel de Oliveira que me terá como ávido e curioso espectador".


Na apresentação das Feridas já tive ao meu lado o meu amigo José Luis Peixoto e, por vezes, o Jorge Reis-Sá e o Valter Hugo Mãe. Costinhas quentes protegidas pelo poema de Padrón e a perda da timidez.


A apresentação do Diálogo de Vultos, a primeira, na Fnac do Chiado foi bem mais atribulada emocionalmente e nem todas as tentativas para segurar dentro de mim a força deste livro perante uma audiência foram bem sucedidas. Livraram-me de males piores a minha amiga Bárbara (Guimarães), um público surpreendido pela minha humanidade, talvez,mas muito caloroso e o filme intenso da minha amiga Dora Carvalhas pontuado pela música adequada e profunda do meu amigo de longa data Luís Lamelas/Euthymia e a minha voz lendo dos Diálogos. (ver video em blog)


Seguiram-se apresentações várias sempre com a generosidade de pessoas como a minha prima Rita Baleiro, da Universidade do Algarve, ou a única e inimitável professora de Barcelos, a minha querida Fátima Aetheria, em Braga e em Barcelos, forças a adicionar aos vultos apresentados.


Na contabilidade das impressões, foram muitos os locais, as ocasiões, os sentimentos. Houve espaço ao humor e ao amor e à dor em ambos. Numa apresentação num festival de cinema deu para brilhar com uma anedota (Duas cabras estão a comer a pélícula de um filme. Pergunta uma à outra: "E que tal?". Resposta: "Bah! Gostei mais do livro."); noutra do Antídoto (livro disco dos Moonspell e José Luís Peixoto) convites para ir a Cabo Verde (nunca fomos) e epítetos de "bébes de Abril"; ressacas na Madeira, enfim tudo um mundo de impressões.


Não sei se para aligeirar o peso dos vultos comecei a ler/enquadrar as apresentações com a divulgação do meu primeiro poema que escrevi em 1991-1992 (11ºano) quase como numa aposta com uma Professora de Psicologia, para ter uma nota melhor (resultou!) e constituia o grand finale de uma aula/trabalho de grupo sobre o suicidio. Este era lido ao som do Adágio para cordas de Samuel Barber (uma das minhas peças musicais) e toda a aula era diferente e down, com excertos de filmes como o Clube dos poetas mortos (Peter Weir) ou Videodrome (Cronenberg), um momento estranho até mas que deu não só para subir a nota como para causar uma impressão em quem lá esteve.


Rezava assim o poema: (texto non varieteur :) - com as rimas próprias dos sweet seventeen)


Não encontrei a beleza

na morte da natureza

na humana omissão

na derradeira confissão

no eterno recalcamento

no asifixiar do sentimento


A espiral humana da cobardia

que venera a hipocrisia

encontram em nós- descrentes-que pomos fim à vida

escape para as torrentes - um escape suicida.


O esforço inglório da vida

nas mãos do herói do século XX termina

o esforço inglório da vida

termina às mãos do suicida

que tremem diante do mistério

que enchem sem cessar o necrotério (!)


Para onde irei? - o dilema eterno

só sei que abandonarei o real inferno

o paraíso perdido é já uma certeza

eu só quero encontrar a beleza


E tinha este aspecto que vem no canto superior esquerdo do post. É um manuscrito original. Durou até hoje :)
Obrigado a todos quanto comentaram, continuem a abrir o cofre, até para a semana, bom fim de semana!






6 comentários:

Marta disse...

Talvez nao totalmente partilhadas, mas singularmente vividas
[As recordações merecem-no!]

Ontem, abri [pela primeira vez, confesso, ao fim de quatro anos!] a Loud! e dei de caras, uma forma agradável de se dizer, com um texto seu [teu?]. Só li o primeiro parágrafo [achei desadequado ler um artigo completo sem comprar a revista!]. Tratava de dias e de não-dias para enfeitar o papel com rabiscos parecidos com palavras - uma questão de inpiração [ou não].

Agora, pode já não parecer muito, mas naquele momento, aquelas palavras valeram de muito a meus olhos!

As primeiras impressões sempre ganham algum respeito, e as suas fizeram por si! Quando passar numa montra, imagino não ler o seu nome em nenhum livro que se lhe apresenta [os livros de montra são sempre uma forma mediática de atingir corações sensíveis a imagens apelativas, sem que as palavras tenham realmente algum sentido - isto sem desprezar nenhum livro de montra, porque já comprei alguns de grande mérito!], mas procurarei por eles nas prateleiras do interior! E espero encontrá-los!

As minhas palavras quase parecem uma conversa fiada, mas quando se vale o respeito, tentamos sempre retribuir de alguma forma!

Um beijo*

Anônimo disse...

Nem imaginas o quanto sinto-me diminuído ao ler o teu poema. Apetece-me queimar tudo o que alguma vez escrevi (sim, no final do liceu também escrevia). Parabéns...

PS: Vai a Cabo Verde, tu e os Moonspell, leva poesia e leva música, ficarás surpreendido com feedback. Já tenho bilhete para o Hard Rock Cafe (18 de março), Cabo Verde vai lá estar representado e à espera de uma visita.

Abraço!

Anônimo disse...

Ora até que enfim podemos ler o poema! Lembro-me perfeitamente de quando o recitaste na FNAC do Chiado e de quão impressionado fiquei. Mas as letras de Daemonarch foram escritas antes, certo? Abraço!

Rosa Branca Pinto disse...

A propósito de livros, tenho a caminho de casa os seus três livros, cuja encomenda ainda não chegou devido ao excelente trabalho dos CTT, simpatias à parte.

Não obstante, eles devem chegar dentro em breve e, além da curiosidade que tenho de lhes pegar, de os ler, de tentar interpretar os seus poemas, tenho um enorme desejo de os ver assinados por si, pelo menos um - que terei oportunidade de escolher quando os tiver na mão.
Não tenho ideia de como um dia poderei ter um livro seu dedicado por si, mas estarei atenta às oportunidades.
Fica este comentário que é, sinceramente, um pedido, um desejo que lhe comunico, embora publicamente...

Um abraço,

Rosa Branca


....

rosabrancapinto@gmail.com

André Ferreira disse...

adoro este poema...

vi-te a recitá-lo no youtube na apresentação do "dialogo de vultos", livro que hei-de comprar...

ha uma coisa que ainda nao entendi sobre o teu projecto a solo, as letras sao da tua adolescencia?? e que historia, real ou inventada, é aquela do cao ter comido os poemas??

cumps... continuação

Anônimo disse...

hi, new to the site, thanks.