sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Em nome de uma fome maior

Há uns meses a esta parte, deixei simplesmente de publicar aqui, porque o último poema que aqui publiquei, foi como um espelho partido da dor causado pela morte de um amigo próximo, jovem, um irmão.

Hoje aqui volto, espero ainda encontrar-vos. A vida prossegue, sem nós sabermos, em nome de uma fome maior:

Em nome de uma fome maior

Há que começar finalmente a beber

a água das chuvas

para que possamos deixar de ser

aqueles que apenas

antecipam a sede

há que começar a viver

para deixarmos de ser

aqueles que apenas observam e apontam em cadernos tristes

tudo e todos quantos chegaram ao fim

há que fazer de cada palavra uma jóia

há que fazer de cada palavra uma fortaleza

de cada detalhe um mundo de minúcia brilhante

de cada som toda uma linguagem

de labirintos transparentes onde possamos encontrar

os nossos e confundir os outros


aproveitemos o facto de respirarmos ainda

para responder às ofensas

de quem nos quer mal

nunca perdoando

deixemos o perdão, este perdão para as ficções

dos inuteis

patrulhemos com a verdade dos nossos exércitos e armas brancas

as terras que nos dão chão e ar

que nos matam a fome, a sede e a expectativa

que nos fazem ser alguém mais do que aquele ninguém


tudo o que fazemos

o estranho, o discutível, o polemico, o invisivel

é feito em nome de uma fome maior

tudo o que somos

devorado por esse apetite da alma

quem entende será acolhido à nossa mesa

quem nos despreza receberá a chicotada

de ter de viver com o nosso sorriso

nunca sabendo quando é ele

verdadeiro

ou

falso.

20 comentários:

Pedro Sousa disse...

Excelente amigo F. um hino para cada um de nós!

J. disse...

Estamos cá com toda a certeza. :)
Mais preenchidos do vazio de durante este tempo não te ler.

Bem-vindo de volta.

Anônimo disse...

Adorei mesmo! Excelente!!!!!!!
Ainda bem que estás de volta ao blog!

Já me apetecia um novo livro teu!


ammally

Anônimo disse...

Sabe bem (l)ter-te de volta... Obrigado Fernando!

http://krigsmjod.blogspot.com

NM

jonathan disse...

veio mesmo a calhar que escrevas algo esta semana. dia 2 deste mês, tive uma grande perda, não este ano, mas há já 9 anos, e tenho revisto esta semana tudo aquilo que mudou desde a sua partida e tudo o que seria diferente, ou talvez não.
não acredito em destinos, nem tenho fé nem creio em figuras religiosas, mas a perda de alguém que outrora amamos pela vivência e hoje pela sua falta ainda amamos mais, mostra que vale sim a pena continuar a respirar, não só para ser forte em frente aos outros, mas guardar os pedaços de "espelho partido" para continuar sorrindo, para a vida.

obrigado, esta publicação animou-me bastante.

Tiago Anjos disse...

Bem vindo de Volta Fernando! Continuo aqui! Esperava há muito que pudesses voltar a este blog, obbrigado por o fazeres! Grande Abraço!

Jorge Ribeiro de Castro disse...

Palavras que vertem o sentimento de uma doçura que se foi... deixando o arrepio... a memória...
Bem-vindo de volta!

Anônimo disse...

Parabéns! Adorei o poema!

Effý disse...

Primeiro de tudo, GRANDE POEMA. Realmente é um escritor espectacular.
Tomei conhecimento do blog quando me dirigi a uma livraria na tentativa de encontrar o livro "Feridas Essenciais" por si escrito.. Mas disseram-me que a editora foi à falência e por isso não estava mais à venda. No entanto, deram-me o endereço do seu blog. Talvez me possa indicar alguma livraria na qual ainda haja o livro à venda, ou então algum dos outros dois por si escritos.
Esperando pela resposta, Elsa Oliveira

Effý disse...

Primeiro de tudo, GRANDE POEMA. Realmente é um escritor espectacular.
Tomei conhecimento do blog quando me dirigi a uma livraria na tentativa de encontrar o livro "Feridas Essenciais" por si escrito.. Mas disseram-me que a editora foi à falência e por isso não estava mais à venda. No entanto, deram-me o endereço do seu blog. Talvez me possa indicar alguma livraria na qual ainda haja o livro à venda, ou então algum dos outros dois por si escritos.
Esperando pela resposta, Elsa Oliveira

Anônimo disse...

excelente poema!

Trebaruna disse...

Ainda bem que voltaste aos dois blogs. :)
Gosto muito das tuas palavras!!

Daisy Libório disse...

fome de tudo
força alimentadora
propulsão de ser quem somos
nunca a outra parte
e assim sendo, aproximação...

*bem-vindo!

www.fragmentostodosmeus.blogspot.com

Anônimo disse...

Magnifico como sempre a muito que aqui não vinha, mas é sempre reconfortante ver como continua a escrever e a encher as nossas almas com tão blas e verdadeiras palavras.
Nunca eixei de escrever!

Raquel Valente

Carolina Dávila disse...

Bem-vindo de volta Mestre!!! Adorei o poema!!!

Anônimo disse...

obrigada por voltares, nao imaginas o quanto me desiludi cada vez que visitei o blog na esperança de ler um poema novo e receber mais um pouco de ti.

excelente, emotivo e no fundo tudo aquilo que sentimos quando erguemos a cabeça e caminhamos e frente.

beijo

fico a espera de novos poemas e de um novo album.

Moonshadow disse...

Muito bonito...um poema que toca fundo no coração...=)

Anônimo disse...

Bom regresso! Não nos deixes de alimentar a alma.
HB

Anônimo disse...

Bem-vindo de volta Fernando!
E incrivel como este poema me fala a` alma, e adoro a parte onde diz "quem entende será acolhido à nossa mesa quem nos despreza receberá a chicotada de ter de viver com o nosso sorriso nunca sabendo quando é ele verdadeiro ou falso."
Aqueles que verdadeiramente sao importantes estarao sempre a teu lado.
Beijos!
Alma Mater (Anne B.)

CJ Green disse...

Belíssimo. Welcome back.